Adenomegalia

Tenho um caroço no pescoço. É câncer?

Uma das razões pelas quais as pessoas mais procuram o hematologista é a presença de algum nódulo (frequentemente chamado de caroço) palpável em alguma parte do organismo (geralmente no pescoço, mas também nas axilas e na região inguinal). Qual é o significado disso?

Imagem Adenomegalia

Nosso organismo apresenta uma série de pequenas estruturas chamadas de linfonodos. Essas estruturas estão distribuídas em diferentes locais do corpo ao longo da circulação linfática. Os vasos que compõem essa circulação são responsáveis pelo transporte da linfa, uma substância rica em proteínas e gordura composta por elementos do sangue que extravasam a partir dos vasos sanguíneos e não são reabsorvidos por ele. Usando de alguma liberdade descritiva, podemos dizer que os vasos linfáticos são uma espécie de “ralo” do organismo, drenando substâncias não utilizadas pelas células e tecidos.

Se a circulação linfática é o ralo, os linfonodos são os “filtros” desse sistema. Todos os linfonodos contêm focos onde se concentram milhares de linfócitos, que como já vimos, são células de defesa do nosso organismo. Produzidos na medula óssea, essas células ficam “hospedadas” no linfonodo, completando seu desenvolvimento. Lá elas também exercem uma função de sentinela: como estão no meio da circulação linfática, por onde passa, diariamente, uma série de microrganismos e substâncias da nossa circulação sanguínea, incluindo bactérias, vírus e toxinas, elas podem identificar e coordenar uma resposta de defesa do organismo a esses microrganismos e substâncias nocivas. Parte dessa resposta envolve a multiplicação dos linfócitos, que aumentam muito em número, o que também leva ao aumento das dimensões do linfonodo. Chamamos de adenomegalia ou linfonodomegalia a situação clínica em que uma pessoa apresenta os linfonodos com tamanho aumentado.

Assim, as principais causas de linfonodomegalia são de natureza benigna, geralmente relacionadas a infecções bacterianas ou virais. Outra causa frequente, porém, menos comum, de linfonodmegalia são as doenças autoimunes. Nessas doenças o ocorre aumento do número de linfócitos dos linfonodos em decorrência de uma resposta inadequada do nosso sistema contra si próprio.

Eventualmente, em menos de 1% dos pacientes com linfonodomegalia, porém, a causa do aumento do linfonodo é a infiltração dele por células oriundas de um câncer em outro órgão, situação chamada de metástase linfonoda, ou uma proliferação maligna dos linfócitos existentes no linfonodo, algo que origina um tipo de câncer hematológico chamado linfoma.

Então como saber se o linfonodo aumentado é um câncer?

Uma resposta bem direta a esta pergunta é: através de uma biópsia do linfonodo aumentado. De fato, infelizmente a resposta definitiva para esta pergunta, ou seja, com 100% de certeza, só pode ser obtida através da realização de uma biópsia. Mas é preciso realizar uma biópsia de linfonodo em todos os casos de adenomegalia? Você já deve estar imaginando que não, mas vamos explicar por quê.

Os diferentes processos que causam aumento dos nossos linfonodos os fazem por diferentes mecanismos e isso resulta em características diferentes da adenomegalia. As bactérias, por exemplo, tendem a provocar aumento dos linfonodos mais próximos aos locais por onde entraram no nosso organismo. Assim, o aumento de linfonodos de maneira isolada no pescoço (primeira cadeia de linfonodos a partir do nariz e da boca, porta de entrada comum de bactérias), axilas (primeira cadeia de linfonodos a partir das mãos) e virilha (cadeia de linfonodos mais próximas dos pés e dos órgãos genitais e urinários) está frequentemente associado à quadros infecciosos. De forma análoga, linfonodos aumentados por todo o corpo (temos mais de 600 deles!) sugerem mais frequentemente um processo viral, uma vez que as células cancerosas tendem a migrar do local do câncer para a cadeia de linfonodos mais próxima, e não para o corpo todo).

Os canceres, por sua vez, tendem a causar linfonodos muito aumentados (mais de 2 cm), endurecidos, fixos (não móveis) e indolores à palpação. Também é comum que cursem com sintomas associados ao câncer, como a perda acentuada de peso. Outra característica frequentemente associada a um diagnóstico de câncer é o caráter progressivo: o linfonodo cresce progressivamente, sem regredir.

Dessa forma, usando dessas características, é possível identificar pacientes com adenomegalia que apresentam chance aumentada de terem algum câncer e que, portanto, necessitam de biópsia. Mas mesmos nesses indivíduos, a chance de uma biópsia revelar um diagnóstico de câncer é de menos de 30%.

Portanto, se você tem uma adenomegalia está em dúvida se ela pode ser um câncer e se é necessário uma avaliação mais profunda com biópsia, consulte o médico hematologista para que ele possa ajuda-lo!